Via Podiensis, segunda parte: de Aumont-Aubrac a Figeac

Como eu tardo mas não falho, hoje publico finalmente o relato da caminhada entre Aumont-Aubrac e Figeac, com quase dois anos de atraso, e de forma bem resumida, porque a memória já não é a mesma de alguns anos atrás.

Diferente do primeiro trecho em 2018, nessa etapa tive a companhia de minha prima Carla, uma delícia de surpresa que a vida me reservou. Como sou 10 anos mais velha que ela, durante muito tempo estávamos em momentos muito diferentes da vida e não tivemos muito contato. Poucos anos atrás estive no Brasil de férias, nos reencontramos e não paramos nunca mais de tagarelar.

Esse tipo de viagem é um exercício pra mim, control freak assumida, que dificilmente sai de casa sem saber da previsão do tempo, da hora do trem ou de onde/o que vou jantar. Adoro planejar viagens e faço sempre um roteirinho em power point pra me situar. Mas não na peregrinação. Esse estilo de viagem é como disse uma vez o sábio Forrest Gump: uma caixa de surpresas. E como houve surpresas nesse trecho!

Pra começar, tínhamos apenas as passagens de avião para Paris e de volta pra Copenhague. O resto, pensei, compramos na hora. Hotel reservado apenas em Paris e na primeira noite em Aumont-Aubrac.

O que eu não tinha contado era que fomos justamente no feriado de Corpus Cristi, onde todos os franceses resolveram viajar. Então rapidamente percebemos que pelo menos de um dia pro outro, precisaríamos fazer reservas nas cidades onde pernoitaríamos. E ainda assim, fomos deixando a passagem de volta pra Paris ficar pro final – eu acreditava que seria complemente descomplicado comprar uma passagem de trem num guichê na estação em Figeac, no último dia.

Assim chegamos em Aumont-Aubrac, onde jantamos um maravilhoso aligot no restaurante Prunières e dormimos no La Ferme de l’Aubrac. No dia seguinte partimos cedo.

No meio do caminho….

No primeiro dia caminhamos até Nasbinals. Não lembro direito dessa primeira etapa, então vou descrever em algumas imagens.

Depois de Nasbinals, nosso destino foi Saint-Chély-d’Aubrac, um lugarejo fofo com tantas opções de albergue que achamos que seria moleza.

Então fomos direto a um hotel que também tinha uma parte albergue (mais barato). Mas o albergue estava cheio e só tínhamos a opção de um único quarto a 80 euros. Eu achei muito caro e garanti a minha prima que encontraríamos outro mais barato. E ainda falei pra moça na recepção: A gente vai procurar outro mais barato. Ela só respondeu um bonne chance.

Andamos pelo vilarejo inteiro e ligamos pra todas as opções no meu guia… e estava tudo lotado! O jeito foi admitir que precisávamos do quarto caro da moça e voltar correndo na humildade.

Quando entramos no hotel, tinha um casal sendo atendido na recepção. Pensei: Ferrou. O casal vai pegar o último quarto que era pra ser nosso. Mas milagres acontecem, e aquele casal estava na verdade indo embora do albergue e a moça fofa disse: Agora tem vaga no albergue pra vocês. Quase choramos de emoção!

Agora com um teto, jantar e petit-dej garantidos, pudemos relaxar e descansar as pernas.

Dia seguinte com a lição aprendida, paramos para almoçar a caminho de Estalion e ligamos para alguns telefones do meu guia para fazer uma reserva. Demos sorte de primeira: um senhor disse que tinha dois quartos em sua casa e estaria esperando pela nossa chegada aproximadamente às 16 horas.

Esse dia foi o único em que pegamos chuva – mas foi uma chuva fina o dia inteirinho. Com o caminho cheio de lama, acabamos andando mais devagar e atrasamos a chegada em Estalion. Me lembro de estar exausta e pensar que o quarto não devia mais estar reservado pra gente, por causa do nosso atraso – e pensei que conseguiríamos um hotel ou albergue no centro de informações turísticas, pra onde nos dirigimos.

Lá tivemos más notícias – não havia uma única vaga em nenhum hotel, albergue ou similar na cidade inteira. Estava tudo lotado.

Bom, então é hora de ligar para o chambre d’hôte (quarto em casa de família que acolhe peregrinos por uma noite) com quem tínhamos feito a reserva no almoço, no meio do caminho, e esperar que ele ainda tenha os quartos para nós – mesmo com 2 horas de atraso.

Na primeira tentativa liguei para o número errado, nem lembro como ou porque. Entrei um pouquinho em pânico, mas ainda tentando manter a pose 🙂

A mocinha da recepção já tinha lavado as mãos e eu mais uma vez liguei pro chambre d’hôte. Caiu na caixa postal e deixei um recado (sinal claro de desespero).

Eu e Carla nos olhamos com cara de derrota e de quem vai dormir no banco da praça. Não havia mais nada a ser feito. O jeito era ir encarar a chuva do lado de fora e talvez pedir esmolas.

Quando eu abro a porta para sair, o milagre chega. Foi no mesmo segundo: eu abri a porta do centro de informações. A porta ainda estava na minha mão. Carla vinha atrás de mim. Estávamos rumo à sarjeta. Um carro chega (na minha lembrança, em alta velocidade – ah, vai… adicione um quê de Hollywood na cena) e pára na nossa frente. O motorista abre a janela e pergunta: Flaviá?

Eu quase gritei, sim, sou eu, me adota, me leva!!!! Mas fui mais comedida. Em 2 minutos estávamos no carro indo pro chambre d’hôte. O Gérard, nosso anfitrião, nos deu um quarto (um para cada, com cama de casal!) no primeiro andar só nosso, com um banheiro enorme com banheira, nos levou de carro num restaurante para o jantar, nos ofereceu um café da manhã de realeza, enfim, foi um anjo, nada menos.

No dia seguinte nos despedimos e seguimos em tempo firme para o próximo destino – Golinhac, parando pra almoçar e descansar na deslumbrante Estaing.

Mais uma vez já chegamos em Golinhac com a reserva garantida. Nossos anfitriões foram queridíssimos, o jantar e café-da-manhã comunitários com os outros hóspedes foi lendário, o quarto com uma linda vista verde…. oh, Golinhac!

O destino seguinte foi aquele que ganhou nossos corações, e um dos mais lindos dessa etapa: Conques! Também sem palavras pra descrever, compartilho algumas imagens.

A última noite foi especialíssima, graças à hospitabilidade do nosso anfitrião Andrea, do Bio-Gite La Vita è Bella. Depois da calorosa recepção, Andrea nos serviu um dos melhores jantares da semana (com direito a opcão sem glutem), uma pasta feita em casa simplesmente impecável e indescritível de boa, regada a um bom vinho tinto italiano e pão, claro. Andrea tocou piano lindamente, e ainda nos ajudou a procurar passagens de trem ou ônibus de Figeac (nosso destino do dia seguinte) a Paris, de onde voltaríamos para Copenhague. O café da manhã no dia seguinte foi igualmente divino. Um querido e altamente recomendado.

A passagem de Figeac para Paris não foi encontrada pela internet, e eu meio nervosa, meio (ainda) confiante, tinha (quase) certeza que, chegando na estação do trem em Figeac, não seria problema algum comprá-la num guichet. Pesquisando com Andrea, antes de deixarmos o albergue, vimos que tinha um horário de trem às 13:45 (ou alguma coisa perto disso). Então o plano era apertar o passo e chegar em Figeac a tempo de pegar esse trem.

Mal paramos pra descansar. Foi praticamente uma corrida de 25km – com algumas subidas e descidas, e muito calor! Quando entramos na cidade antes da uma hora, comemoramos o sucesso da expedição e nos dirigimos à gare, tranquilíssimas 🙂

Chegando lá, descobrimos que a comemoração tinha vindo cedo demais. Havia mais um desafio a ser vencido: a estação estava queimada e abandonada! Mega cansadas que estávamos, precisamos nos recuperar do choque rapidamente e encarar a realidade. Assim, descemos uma rua em forma de ladeira íngreme de pouco mais de um quilômetro rumo ao centro, onde havia um centro de informações turísticas. Acreditávamos que ali conseguiríamos comprar alguma passagem pra Paris, ainda que não fosse de trem, mas de ônibus, carroça, skate, valia tudo!

O Centro de Informações estava fechado pra almoço, mas abriria em poucos minutos. Nesse momento, um pequeno, discreto desespero começou a bater na porta. Perguntas começaram a passar pela minha cabeça. E se? E se? Estávamos num sábado. Nosso voo de Paris pra Copenhague era segunda de manhã.

Uma da tarde em ponto nos debruçamos no guichê explicando nossa situação pra senhorinha que procurava, procurava, procurava alguma saída pra gente na tela de seu computador. E falava: não tem nenhuma passagem pra hoje…. nem pra amanhã…. nem pra segunda-feira. Nem ônibus, nem trem, nem carroça. E hotel aqui? Hotel também não tem. Nosso destino parecia ser o banco da praça, mais uma vez. No exato momento em que, resignadas, nos dirigíamos para a saída, uma nova atendente surge de trás de uma porta que estava fechada até então. Ela perguntou se podia ajudar e a senhorinha explicou nosso drama. Em dois minutos essa mulher tomou controle do computador e de nossas vidas. E deu o veredicto: vocês precisam pegar o ônibus pra Toulouse, que sai daqui a 10 minutos lá da estação de trem queimada, e chegando em Toulouse vocês vão pegar o avião pra Paris. É a única saída.

Já estávamos saindo correndo porta afora nesse momento, agora empenhando todas as nossas forças 1 km ladeira acima até a estação, carregando mochila, desespero e esperança ao mesmo tempo, até avistarmos o ônibus e literalmente pularmos pra dentro dele, arfando, com o pulso a mil. Um segundo depois o motorista deu partida – estávamos indo pra Toulouse.

Já no ônibus compramos 2 das últimas 4 vagas no voo das 8 da noite para Paris, que partiu lotado 🙂

No fim tudo dá certo, já disse um filósofo que se ainda não deu certo, é porque ainda não acabou!

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Os países mais felizes do mundo

Qual o caminho para a felicidade? Os países nórdicos parecem ter encontrado a resposta. Dinamarca e Finlândia, por exemplo, estão sempre no topo da lista do relatório anual da ONU chamado “A Felicidade no Mundo”. Esse relatório avalia os países em 6 áreas de satiasfação pessoal: renda, expectativa de vida, apoio do governo, liberdade, confiança e generosidade.

Quando falamos em “felicidade”, penso que o mais apropriado é dizer “satisfação com a própria vida, as condições ao redor de si e suas conquistas pessoais”. Assim, concordo que os dinamarqueses são mesmo muito felizes!

Assim, resolvi fazer uma listinha pra iluminar as mentes brasileiras que podem estar se perguntando: como eles conseguem? Pra mim, a palavra que melhor explica isso é SIMPLICIDADE. A simplicidade reflete em todas as áreas da vida que os dinamarqueses levam.

  1. Os dinamarqueses tem um estilo de vida SIMPLES. O aniversário de 1 ano do filho de um dinamarquês não vai endividá-lo nem vai ter 300 convidados. Não vai ter oitocentos tipos de salgadinhos e a mesa vai ser bem parecida com essa:1ano

Da mesma forma, o casamento dinamarquês vai ter uma média de 40 convidados, e vai ser comemorado no jardim da casa dos pais de algum dos noivos ou noivas e vai servir alguma comidinha feita em casa.

2. Os dinamarqueses não se preocupam com a vida alheia. No sentido de cuidar de sua própria vida, mesmo. Os dinamarqueses não comentam a roupa de ninguém que eles viram no metrô, não comentam sobre o biquini de ninguém na praia, não reparam mesmo; não se importam se uma amiga não está em forma, tem estrias ou celulite, se não depilou ou se não fez as unhas. Tudo isso tem uma importância mínima na vida e no dia-a-dia do dinamarquês – e da dinamarquesa.

vinterbad

3. Os dinamarqueses apreciam os momentos tranquilos e gostosos aproveitados na companhia de seus queridos. Seja familiares ou amigos. Eles são os campeões mundiais do hygge, essa palavra dinamarquesa que define um momento agradável na completa ausência de estresse – pode ser no sofá de casa tomando um café, num bar tomando um drinque com amigos ou passeando numa floresta com o cachorro. Os elementos geralmente envolvidos são roupa confortável, alguma comida ou bebida, livros, música ou/e uma conversa gostosa.

hygge

4. Os dinamarqueses vivem uma vida baseada na confiança. Eles não são muito chegados a teorias de conspiração, não tendem a ser ciumentos ou a desconfiarem uns dos outros. Se uma pessoa diz A, não há motivo para achar que ela “quis dizer” B. Se você diz ao seu chefe que está doente, ele te sugere ficar em casa debaixo das cobertas e ainda deseja uma rápida recuperação. Se você perder seu cartão mensal de transporte público na rua, muito provavelmente a pessoa que o encontrar vai levá-lo na porta da sua casa (sim, já aconteceu comigo).

5. Os dinamarqueses são honestos e diplomáticos e não levam a opinião dos outros como ofensa pessoal. Se você pergunta a sua amiga dinamarquesa o que ela achou do seu vestido, corre o risco de ouvir que não faz muito o estilo dela e tudo bem. Vida que segue – e sem hard feelings.

6. Os dinamarqueses são um povo que prioriza um estilo de vida saudável. É bem verdade que em festas, eles bebem muito e uma grande parcela da população ainda fuma. Mas no geral, eles apreciam a vida ao ar livre, nas quatro estações do ano; priorizam uma vida ativa e uma alimentação saudável.

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O que eu aprendi com os dinamarqueses, e aplico em minha própria vida?

Eu sempre tive um interesse em alimentação saudável, e isso se consolidou na Dinamarca. Compramos iogurte natural e sem açúcar, fazemos nossos bolos em casa em vez de comprar um pronto e/ou industrializado, cultivamos nossos próprios temperinhos, priorizamos orgânicos, criamos galinhas no quintal, bebemos água, nunca refrigerante.

Eu nunca fui ativa no Brasil, mas sempre me interessei em atividades ao ar livre. Na Dinamarca me tornei corredora e trilheira. Aqui também pratico o mergulho no inverno (vinterbad).

Nunca fui de reparar se alguém engordou 100 gramas, emagreceu ou ficou careca. Então a Dinamarca foi pra mim uma libertação, um lugar onde posso sair com ou sem maquiagem, com o cabelo penteado ou desgrenhado, de vestido curto ou calça, de salto ou rasteirinha e ninguém, eu repito: ninguém vai reparar em nada disso, muito menos comentar com uma terceira pessoa sobre a aparência de quem quer que seja. A não ser pra elogiar 😉

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Peregrina na França

Em 2018 eu iniciei um projeto com que sonhava há muito tempo. Quando ia fazer 30 anos, planejava realizar o Caminho de Santiago, na Espanha, caminhando por 1 mês da fronteira da Espanha com a França, até Santiago de Compostella na Espanha. Por vários motivos aquela viagem não aconteceu naquela época, mas o sonho nasceu, cresceu e se desenvolveu ao longo desses anos até que resolvi colocar os pés na trilha – iniciando minha peregrinação em Le Puy-en-Velay, na França –  e caminhar alguns dias por ano, até chegar em Santiago. Sem pressa.

via podiensis

Assim a primeira etapa da minha viagem seria caminhar por 4 dias um total de 86km, de Le Puy até Aumont-Aubrac. Me preparei por meses e parti. Me empolguei tanto que percorri os 86km em 3 dias, em vez de 4. Foi um erro, entre outros que cometi nessa primeira etapa. Aprendi com eles. Aqui vai um resumo dessa primeira experiência.

Marido foi comigo para o fim de semana. Em Paris fiz o basicão com ele, que não conhecia a Cidade-Luz. Nos hospedamos em Montmartre, comemos brunch no Marcel, caminhamos da Arco do Triunfo até a Notre-Dame, passei na Shakespeare & Co, um dos meus lugares preferidos na cidade, e subimos a Torre Eiffel de escada (o que eu recomendo altamente: dificilmente você vai encontrar fila pra comprar o ingresso ou pra esperar o elevador).

Na segunda-feira, marido voltou pra casa e pros filhotes, e eu, em plena greve da SNCF, consegui pegar um trem e um busão e chegar em Le Puy bem tarde da noite; atavessei a rua e lá estava um Ibis Budget, onde me hospedei.

No dia seguinte acordei às 6, tomei um bom banho, um bom petit-dej, botei a mochila nas costas e parti pra Catedral de Le Puy, de onde minha caminhada iniciaria. Houve uma missa rápida e bonita às 7. De lá recebemos a bênção do padre, fui buscar minha Credencial do Peregrino e botei os pés no Caminho às 8 e meia, cheia de gás!

Os primeiros 12,5 km foram tranquilos. Caminhei rápido, numa média de 11 minutos por km. Chegando numa pequena fonte, encontrei dois belgas – o Olivier e o Patrick – com quem caminhei um pouco até a parada para o almoço, mais uns quilômetros à frente.

Ao fim de um total de 29km, chegamos a Monistrol-d’Allier. O Patrick ficou no albergue mais baratinho da cidade, e eu em outro albergue onde eu podia pagar com cartão de crédito. Por €33,5 eu tive um quartão confortável só pra mim, jantar e café da manhã incluídos no albergue Le Repos du Pélerin. Os responsáveis foram muito queridos. O jantar foi delicioso e farto, e no dia seguinte depois do café da manhã eu estava novamente me jogando na estrada às 7 e meia.

Nesse dia caminhei sozinha na maior parte do tempo, mas cruzei algumas vezes com o Patrick. Decidi ir até Le Sauvage, e pernoitar no único albergue do que eu acreditava ser uma cidadezinha. Isso significava ter andado 31km nesse dia no total, o que já é muito. Quando cheguei lá, surpresa: o albergue estava lotado e não havia mais nada naquele lugarejo – teria que andar mais 4-5km até o próximo!

Com os ombros latejando e os pés em chamas, me sentei calmamente, tomei um sorvete e decidi me adiantar, pois não havia uma alternativa e já era 4 horas da tarde – logo ficaria escuro. Eu tinha que voltar pra estrada. A dona do albergue Le Sauvage teve a gentileza de me dar o contato de uma senhora que abrigava peregrinos como eu, e essa senhora me buscou em seu Citroën 93 no meio da estrada. Na casa dela me serviu jantar, um quarto com banheira e de café da manhã no dia seguinte, pão com geleia feita das frutas vermelhas do quintal.

De manhã ela me levou exatamente onde tinha me pegado na tarde anterior e continuei meu último dia de caminhada até Aumont-Aubrac 🙂

Esse último dia foi tranquilo e curto comparado com os outros. Chegando em Aumont-Aubrac agradeci, me hospedei num alberguinho, jantei, dormi. No dia seguinte bem cedinho peguei o ônibus pra Montpellier, onde fui curtir um fim de semana com minha amiga Grace*.

Além do Patrick que citei, tive mais vários encontros interessantes com várias pessoas de diferentes idades e culturas pelo caminho. Foi uma das melhores partes da experiência.

Agora estou planejando a segunda etapa dessa peregrinação, que será na primavera de 2019.

Essa próxima parte do post vai abordar principalmente o que levar na mochila – o que levei em 2018 e o que vou levar em 2019. É um compilado do que eu aprendi na prática e do que reuni em vários blogs e videos de peregrinos internet afora. Espero que seja útil!

Mochila

O modelo e o peso da mochila são importantíssimos pro sucesso da peregrinação. O peso dela não deve passar 10% do peso do seu corpo, e em 2018 a minha mochila ficou um pouco mais pesada que isso. Eu caminhei com uma mochila de 50 litros, o que foi um erro. Para esse ano minha mochila será uma Osprey Kyte de 36 litros. A minha primeira mochila só abria no topo e isso me irritou. Minha nova Osprey abre no topo, no fundo e na lateral.

Tênis

Como caminhei (e caminharei esse ano) na primavera, não é necessário usar botas. Em 2018 caminhei com meu tênis de trail run Salomon Speedcross 4, o que não recomendo. Ele é excelente para corridas curtas em trilhas. Mas não para caminhar muitos quilômetros por dias seguidos. Então esse ano minha escolha é o Salomon X Ultra 3.

Três detalhes importantes sobre o sapato: para essa época do ano, eles não devem ter GoreTex (GTX). Essa película torna os sapatos à prova d’água, mas também impede o transporte de suor dos pés, o que contribuiu para minhas bolhas horrendas em 2018. Sapatos sem GoreTex secam rápido se molharem, e os pés respiram e ficam secos. O segundo detalhe: esses sapatos devem ser pelo menos 2 tamanhos maiores do que o seu tamanho normal. Assim como tênis de corrida, durante a atividade os pés incham, precisando de espaço, e nas longas descidas, os pés escorregam muito pra frente dos sapatos. Se não houver espaço…. bolhas! Terceiro e último: USE bastante seu sapato ANTES de ir pra peregrinação. Sapato novo dá bolhas.

Meias

De lã merino, não fedem, secam rápido, mantem a temperatura dos pés estável, e são mega confortáveis. Levei dois pares.

Roupas pra caminhada e pra vestir depois do banho

Também de lã merino. Levei uma de manga longa e uma de manga curta. Além das duas blusas, um fleece, uma jaqueta fina de chuva com capuz (a minha é da The North Face), 2 calcinhas, dois tops de ginástica sem costura , uma calça de trekking/hiking (material fino, elástico, que seque rápido e seja confortável. A minha é da Adidas). Pra usar depois do banho: uma calça molinha, um par de Havaianas, uma blusinha de algodão, um sutiã. Depois do jantar: baby-doll confortável de algodão.

Outros

Levei saco de dormir. Pesa…. e não precisei usar. Não levarei de novo. Um livro: essencial, além do guia. Telefone. Produtos de banho, em versão miniatura: um pente, um vidrinho de condicionador, um sabãozinho de hotel, um shampoo em barra, um desodorante, uma mini-pastinha de dente, uma escova de dente. Protetor solar e boné. Uma bisnaguinha de Voltarem Gel, alguns analgésicos e band-aids. Só! Zero perfume ou maquiagem.

Além da jaqueta de chuva, eu levei um poncho de plástico. Felizmente não precisei dele, mas levarei de novo esse ano. Em 2018 levei uma toalha de rosto. Esse ano vou procurar e investir numa de micro-fibra que seca rápido.

Outras coisinhas que eu sempre tinha à mão: barrinhas de cereal, banana, água (levei minha garrafinha de água de academia) e foi suficiente. A gente passa por mercados ou fontes de água frequentemente no caminho.

Uma mini-carteira só com essenciais: cartão de crédito, algum dinheiro. Passaporte.

Acho que foi tudo. Agora estou me aquecendo para a próxima etapa: Aumont-Aubrac a Figeac 🙂

 

 

 

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Nova York – mais dicas

Por causa do meu trabalho, fui a Nova York várias vezes desde o fim do ano passado. Na primeira vez, há um ano, não tive tempo de fazer nada de turismo. Na segunda vez aproveitei um findi que descrevi no post anterior. Depois daquela vez, foram mais várias! Com exceção do primeiro findi em NYC, todos os outros me hospedei em Chelsea. Então as dicas aqui especialmente de onde comer valem para essa região.

Aqui vai um resumão do que eu mais gostei, menos gostei, de hotéis a diferentes passeios e restaurantes, assim como dicas do que eu acho que não vale a pena.

Em abril desse ano peguei um final de semana lindo, ensolarado e com temperaturas acima dos 20 graus celcius! Estava comemorando meu aniversário de 40 anos, então aproveitei e contratei um fotógrafo pra registrar meu dia de modelete véia no Brooklyn. Recomendo altamente o Rodolfo.

Fiquei hospedada no Holiday Inn Express em Chelsea, localização: nota 10. Hotel: nota 6. Nem pense em tomar café da manhã no hotel quando se hospedar em Nova Yok! Há milhares de outras opções bem mais interessantes.

Falando em comida aqui vão algumas dicas: no Chelsea Market, você pode comer de olhos fechados em qualquer lugar. Tudo é delicioso 🙂 Tente o Amy’s Bread para um café da manhã, e definitivamente coma 3 tacos de uma vez no Los Tacos N. 1. Não tem melhor nem mais barato!

Outro bom lugar para um brunch ou almoço na região Chelsea – West Village é o Westville – dá pra se sentir um local sentado ali e olhando o movimento na calçada.

Querendo comida italiana? O SoHo é um lugar delicioso para se comer, passear, flanar, ver gente, lojas, livrarias, enfim. Lá encontrei uma pérola chamada Il Corallo Trattoria, onde comi uma pasta deliciosa e uma burrata que vou te contar.

 

Para ir de grátis pertinho da Estátua da Liberdade, peguei o ferry para Staten Island no sul de Manhattan. Chegando em Staten Island, volte imediatamente para o embarque de volta pra Manhattan, não há nada de interessante pra se fazer por lá, mas vale o passeio grátis! Aproveite que já estará perto e visite o Memorial do 11 de setembro na volta.

 

Aproveite para ver arte na sua passagem em Nova York. Eu dei sorte de pegar uma exibição de Tarsila do Amaral no MoMa e também vi obras de Eduardo Kobra e Os Gêmeos pelas ruas e no High Line Park.

 

Aliás, como é lindo o High Line Park! Vá!

Uma das minhas obsessões na vida é visitar livrarias. Apaixonei-me pela Strand Books que fica na Broadway, perto da Union Square. Sempre saio de lá com livros, chaveiros, bolsas, broches, marcadores de páginas, etc. Também há uma ótima no Chelsea Market e algumas menores e locais pelo SoHo afora.

 

E claro, eu que amo correr não podia deixar de participar de corridas ou correr mesmo sozinha no Central Park. Em junho, corri de Chelsea até o Central Park, e chegando lá descobri que tava rolando uma corrida de rua promovida pela imigração italiana de lá, a Italy Run (5 milhas, cerca de 8 km) e me juntei a eles totalmente de última hora. Da última visita, em outubro, me juntei a um tour da Fit Tours e super recomendo!

 

 

 

 

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Um fim de semana em Nova York

No fim de semana passado estive em Nova York. Fui a trabalho, e aproveitei o fim de semana para passear por essa cidade que nunca dorme, onde se há tanto a ver e fazer e eu só tinha dois dias.

Por causa desse tempo extremamente limitado, precisei planejar bastante e aceitar que eu precisaria relaxar. Esse mini roteiro então foi confeccionado sob medida para essa ocasião, não significa que escolhi uma programacão perfeita para alguém indo a Nova York pela primeira vez.

Cheguei no aeroporto JFK às onze da noite da sexta-feira. Tinha planejado chegar em Manhattan de transporte público, mas o voo programado para pousar às 9 da noite atrasou 2 horas, então achei que merecia entrar num taxi e ser transportada até a porta do meu hotel (Shelburne, An Affinia Hotel – 303 Lexington Avenue. Excelente localizacão, pertinho do Empire State). Saquei um pouco de dinheiro no atm do aeroporto e entrei no taxi. A corrida incluindo gorjeta deu 65 dólares.

 

 

Acordei sábado cedíssimo. O dia estava lindo e ensolarado, apesar dos -8 graus cortantes nas ruas. Saí do hotel, caminhei até a Penélope onde cheguei às 8 em ponto (eles estavam abrindo) e comi um brunch gostoso (nem chequei as opcões de café da manhã do hotel), de lá comecei a bater perna pela 34th St, que é o paraíso das compras ao ar livre, se por algum motivo você não puder/quiser ir a algum shopping ou outlet. Entrei e comprei nas seguintes lojas:

  • Lush, que vende cosméticos feitos à mão;
  • UniqLo, que vende umas malhinhas com uma tecnologia japonesa especial para climas frios;
  • Amazon Books, onde comprei A Amiga Genial, de Elena Ferrante; O velho e o Mar, e O Sol também se levanta, ambos de Hemingway;
  • Victoria’s Secret, claro, onde comprei lingerie 🙂
  • na rua também tem várias outras lojas como Gap e H&M, queridinhas dos brasileiros, mas não faz muito meu estilo então passei direto.

Durante a caminhada entrei na Ricky’s, que tem tudo para cabelos; Burlington, onde comprei duas malas Samsonite (as malas estavam mais baratas na Burlington do que na Marshall’s e na TJ Maxx – onde achei carteira da Marc Jacobs por 60 dólares, e da Calvin Klein por 40; as três são lojas de departamento bem parecidas, com ótimas pechinchas), Harmon Face values, onde você vai achar tudo que a farmácia Duane Reade tem (e muito mais), mas com precinhos bem melhores.

Almocei um pãozinho rápido em uma das várias filiais do Pain Quotidien pela cidade. Dali cheguei ao Rockefeller Center e subi no Top of the Rock no fim da tarde. Achei válido, o dia estava lindo e a vista de lá é magnífica. Custou uns 32 dólares e enfrentei pouquíssima fila, achei bem organizado.

Dali entrei pela quinta avenida e acabei passando na Nike Town na 57th St. (não recomendo. Achei os precos altos e havia poucas opcões). Caminhei pela quinta avenida, passei pela Times Square e fui até a 39th St. onde jantei no Salvation Taco, achei delicioso e barato, recomendo altamente. Depois da janta fui quase me arrastando pro hotel, que felizmente ficava bem pertinho dali, com os pés em chamas. Erro de principiante, caminhei o dia todo com botas de bico fino. Pelo menos não tinha salto. Mesmo assim, sapato pra bater perna é tênis e pronto!

No domingo acordei cedíssimo mais uma vez e às 8 estava tomando meu café da manhã na Maison Kayser, também recomendo. Quem não se alimenta bem nos EUA é porque não pesquisa e não sabe onde comer. Opcão é o que não falta em Nova York! Aliás ouvi um (dos muitos) grupo de brasileiros conversando perto de mim, onde todos concordavam que “como se come mal nos EUA, comida boa mesmo é a brasileira!“. Olha eu detesto ouvir isso. Porque não é verdade! E eu AMO comida brasileira. Mas não é verdade que só se come bem no Brasil. Há comida boa em todo lugar, e comida ruim também. A mesma coisa sobre quantidades, qando dizem que na Franca as porcões são minúsculas. Ora, barriga nenhuma no mundo precisa de um prato de caminhoneiro como muita gente come. Tudo é uma questão de hábito e costume, além de se estar aberto para vivenciar a cultura local.

Da Maison Kayser, caminhei lentamente até a estacão rodoviária de Port Authority, passando pela 41st street, pela Grand Central, Biblioteca (maravilhosa!!!), Bryant Park e WholeFoods onde fiz umas comprinhas. Cheguei na estacão às 10:10am, comprei meu ticket para o outlet Jersey Gardens em New Jersey e às 10:30 estava a caminho – às 11 chegamos no shopping 🙂

No Jersey Gardens eu entrei em várias lojas, mas as que mais gostei, onde mais gastei e que eu recomendo são: Tommy Hilfiger (maravilhosa, muita coisa bacana e precinhos ótimos), Nike Factory Store (comprei um novo tênis de corrida Lunarglide 8 por 39 dólares, 4 vezes mais barato que na Dinamarca!!!), e Disney e Osh Kosh para presentes pras criancas. Comprei também um perfume num quiosquinho no meio do shopping, um Lauren que eu usei 20 anos atrás e que já saiu de linha, mas ainda encontra-se em alguns lugares mas custa caro (75 dólares).

Por que eu decidi passar um dos únicos dois dias da minha estadia em Nova York dentro de um shopping? Porque segundo a previsão do tempo, o dia seria muito chuvoso. E a previsão acertou. Eu já tinha encarado bastante frio no dia anterior, mas pelo menos o sol estava brilhando. Agora, turistar com chuva não é pra mim. Numa próxima ocasião quero ir até o Brooklyn, e correr no Central Park. Mas dessa vez o foco da viagem foi mesmo compras.

No fim do dia, lá pelas 5 e meia peguei o ônibus de volta pra NY. Jantei no restaurante do hotel, e assim encerrei meu primeiro séjour na Big Apple.

 

 

 

 

 

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Crise dos 40

O que a gente faz quando a crise bate? A gente vira youtuber. Sempre gostei de escrever blog, agora quero fazer videos também. Será que vinga? Vou falar do que? Alguém vai se interessar pelo que eu quero compartilhar?

Já tive blog de variedades, quando me mudei pra Paris e contava do meu dia a dia. Depois deixei de escrever, e quando voltei limitei minha producão literária aos relatos de viagens e experiências gastronômicas. Depois andei falando somente de maternidade no finado Orkut e no Facebook também, em grupos específicos do assunto. Agora sinto que acumulei uma bagagem mais variada e tenho vontade de falar de tudo.

Junte-se a isso o fato da solidão imensa que sinto, mesmo cercada pelo amor da minha família e amigos mais próximos. Acho que é o tal “ser estrangeira”. Acho que é o tal “envelhecer”, e sentir que ainda há uma infinidade de planos e sonhos a serem perseguidos.

Quero falar sobre ser estrangeira, ser mãe, ter 40 anos, querer conquistar o mundo, querer aprender sobre política e filosofia. Ainda tenho uns mil livros pra ler antes de morrer, e umas mil “top 10” listas pra fazer. A vida é curta e passa rápido.

 

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Minha saga: do sofá à meia-maratona

Posso dizer que eu corro há uns 10 anos.

Tudo começou aos poucos, claro. De tímidos passinhos na esteira da academia, para um jogging mais ousadinho, até as corridas de 5km, depois de 10, 15 e 21km, muita coisa aconteceu.

Corri minha primeira meia-maratona há 2 anos. Antes dela, tinha corrido uma única vez 15km – e antes desses 15, eu tinha algumas corridas de 10km no currículo. O treino semanal não seguia disciplina alguma, e eu corria basicamente 5-7km cerca de 2 vezes por semana.

Meus tempos não eram nada impressionantes: eu fazia 5km em cerca de 32 minutos, às vezes até mais; 10km eram sempre por volta de 1h05m, e minha corrida de 15km antes da primeira meia-maratona tinha durado 1h41m.

Então há dois anos aconteceu minha primeira meia-maratona. Eu dei conta! Não caminhei, não parei, e cruzei a linha de chegada após 2h23m. Depois de 15km eu já estava em frangalhos. Foi uma luta suada, e eu posso dizer que venci. A atmosfera nas ruas de Copenhague era ótima e muito favorável, com torcedores e entretenimento ao longo de todo o percurso. Mas eu diminuí e em muito a minha velocidade à medida em que as minhas forças foram se esvaindo. De uma média de 6m30s por quilômetro, eu encerrei a corrida fazendo quase 8m por quilômetro.

Isso sem mencionar as dores pelo corpo todo depois da corrida. Se eu me sentasse, mal conseguia me levantar, de tanta dor na coluna e nas pernas.

Cerca de 6 meses depois dessa experiência, veio minha segunda meia. A diferença dessa para a primeira foi que eu agora já sabia o que esperar. Sabia o que vinha pela frente depois dos primeiros 15km. Não treinei de forma disciplinada, mas já vinha acumulando mais quilômetros por semana desde a primeira vez, e esse fato combinado com um lindo percurso me ajudaram a diminuir meu tempo e fechar a prova em 2h19m.

Mais seis meses e lá veio minha terceira meia. Minha meta era terminar em 2h15m, mas mais uma vez, não treinei para isso, e depois dos 15km tive que diminuir meu ritmo consideravelmente, e terminei a corrida em 2h18m.

Isso foi há exatamente um ano. Eu estava com 10kg a mais, e decidi que tentaria de novo em 6 meses (maio desse ano) – e que dessa vez certamente conseguiria terminar em 2h15m!

Comecei a treinar sério – era setembro de 2015. Assumi um compromisso de verdade comigo mesma, e juro que meu peso não entrou no contrato. Eu só queria ser mais rápida. Eu queria atingir minha meta. Eu queria me orgulhar de mim mesma. Eu queria vencer um desafio.

Os treinos incluíam correr pelo menos 3 vezes na semana. Uma corrida curta, uma mais longa no meio da semana e nos findis uma corrida longa. No início, corrida longa para mim era 10km. Eu começava na terça feira por exemplo, com 5km, depois 7-8km na quinta, e no sábado 10km.

Isso significava correr em qualquer situação climática! A partir de outubro as noites já eram super escuras, e em dezembro não apenas escuras, mas geladas. Eu não tinha escolha. Eu trabalho durante o dia, busco os filhos na creche/escola, não tenho empregada ou babá. Só posso sair pra correr quando eles já estão na cama. É correr ou correr.

Muitas vezes só conseguia sair pra correr às 9 da noite…. voltava cansada, gelada, às vezes molhada da chuva ou neve. Em muitos trechos o breu era tão grande que eu tinha medo de pisar num buraco (já resolvi esse ‘problema’ e comprei uma lanterninha de corrida, que a gente usa na testa).

Os meses foram passando e eu comecei a ver a recompensa do treino : as pessoas comecaram a notar, antes de mim mesma, que eu estava perdendo peso! Os elogios foram chovendo na minha horta. Isso me dava ainda mais motivação pra sair de noite pra correr, quando o cansaço e muitas vezes a preguiça mesmo, quase venciam.

Em maio de 2016 chegou a meia-maratona que mudaria a minha história! Eu estava correndo sempre entre 17-19 km aos fins de semana, e no último teste tinha feito 19km em cerca de 1h55m. Eu confiava que, se me dedicasse e encarasse como desafio, ia me superar e terminar a corrida em 2 horas! Não 2h15m como era meu plano inicial – mas em 2 horas! Parecia surreal – mas não era mais um sonho distante!

O dia da corrida chegou e estava perfeito… fui com uma colega do trabalho. A temperatura estava em torno de 15 graus e o céu estava meio nublado, mas o sol aparecia às vezes. Quando comecei a correr, me veio um misto de emoção, medo, apreensão, tudo aquilo que só quem corre sabe explicar 🙂 Me juntei aos pacers de 2h05m e lá fomos nós.

Pra mim, os 3-4 primeiros quilômetros são sempre os mais difíceis. O corpo ainda está frio, o pulso aumenta de uma vez, e você começa a suar. Por volta dos 5km o corpo já entrou num ritmo gostoso, você já encontrou seu passo, o corpo está aquecido, daí é mais ou menos colocar no piloto automático.

Eu senti logo nos primeiros quilômetros, que eu estava desenvolvendo uma velocidade interessante, e que eu conseguiria manter ao longo de toda a corrida. Mas não demorou muito e eu senti que o ritmo estava lento, e que eu certamente conseguiria dar uma acelerada. Saí ultrapassando outros corredores, uma delícia de sensação, e melhor ainda, deixei os pacers de 2h05m pra trás.

Fui vendo as placas anunciando a distância já percorrida: 5km….. 10km…. 15km. Hora da verdade. Era ali que anteriormente eu tinha sentido o peso da quilometragem me forçar a diminuir o ritmo. Mas não dessa vez! Continuei no meu ritmo constante, e segui em frente!

18, 19km. Um jato de adrenalina inundou meu coração e eu senti que poderia dar uma acelerada até o fim. Faltando 100 metros pra linha de chegada peguei uma garrafinha de água com alguém da organização e joguei na cabeça, tomei um banho que lavou a minha alma. Eu sabia que estaria quebrando meu recorde pessoal em 100 metros.

Quando cruzei a linha de chegada, fui recebida pelo meu marido – que me fez uma surpresa, eu não sabia que ele estaria ali – e a minha amiga que foi comigo (e acabou antes de mim). Ali me entreguei ao cansaço e à euforia, e corri pra entrar no app da organização e descobrir meu tempo oficial!

Quando ele finalmente ficou disponível, mal pude me conter – tempo oficial: 2h00m49s!!!!!

Era muito melhor do que eu tinha imaginado. Aqueles 49 segundinhos quase me irritaram, mas gente – eu tinha melhorado 18 minutos em 6 meses! 18 minutos e 10 quilos a menos no meu currículo!

Agora o sonho e o próximo objetivo já estavam claros e muito palpáveis – mais 6 meses de treino e disciplina, e eu terminaria a próxima meia-maratona de Copenhague, em setembro de 2016,  abaixo de 2 horas.

Segui treinando pela primavera e pelo verão europeu. Eu sabia que seria difícil. Que eu teria que correr no meu limite. Que uma coisa era manter o ritmo acelerado durante 5km…. outra bem diferente, era me manter abaixo de 5m40s por quilômetro durante todos os 21,1km da corrida.

O dia da meia chegou e lá fui eu! A meia mais animada e bem organizada de que já participei ou ouvi falar! Clima de festa e 22 mil corredores se aquecendo, familiares, amigos e demais entusiastas com buzinas, confetti, faixas, enfim. Muita música animada, e lá vamos nós!

Fui seguindo os pacers de 2h00m pelos primeiros 11 quilômetros. Passamos por diversas zonas de diferentes músicas: banda de rock, dj’s, trio elétrico (de música eletrônica rs), coral, até samba. De repente uma visão que me encheu de adrenalina e energia… uma pessoa da torcida agitando a bandeira brasileira! Era como se eu tivesse precisando daquela motivação. Respirei fundo, dei tchau pros pacers de 2 horas e disparei na frente deles.

Vez ou outra eu dava uma olhadinha, pra confirmar que os balõezinhos amarelos dos pacers tinha realmente ficado  pra trás. Eu sentia que estava dando o melhor de mim naquela corrida, e que eu teria forças pra manter o ritmo até o fim. Isso não significava que seria menos extenuante. Eu estava cansada. Mas determinada!

Quando avistei a placa sinalizando 21km, me emocionei e não quis nem saber o que os outros poderiam pensar. Comecei a gritar: Linha de chegada! Tá chegando! Minha respiração estava tão ofegante que uma mulher um pouco à minha frente se virou pra mim e disse: Você consegue! Vamos lá! Tive a maior vontade de abraçá-la, mas acho que ela teria achado estranho 😛

Quando cruzei a linha de chegada, com os braços pra cima que nem jogador de futebol, só pensava em beber muita água e receber minha medalha. Eu nem pensava em conferir meu tempo oficial, porque eu sabia que tinha quebrado meu record 🙂 🙂 🙂 Quando encontrei meu marido (que também participou da corrida), foi ele que me deu a notícia:

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Comendo (bem) em Copenhague

Atualizado: 06/08/2015

Pegando carona no comentário da Rita, resolvi que é chegada a hora de falar um pouquinho sobre as opções de alimentação em Copenhague. Se tem algo que me irrita, é pagar um monte de dinheiro pra comer mal, em ciladas turísticas.

Seguindo esse mini guia, duvido que você caia em alguma furada!

Copenhague tem 3 centrões de alimentação, que são aglomerados de restaurantes no mesmo local: Kødbyen, Copenhagen Street Food e Torvehallerne.

Torvehallerne, gourmet

O “Torvehallerne”, que consiste em dois galpões cheios de ‘stands’ das mais variadas comidas, é um lugar pra se passar o dia inteirinho! Lá dentro você encontra delícias dinamarquesas, francesas, italianas, espanholas, etc; de sandubas (‘Smag’) a marmitinhas com bolinhos de carne, fish&chips, ‘bife al pan’ argentino (‘Tango Bar’), sushi, pizza (‘Gorms’), cava (‘Cava Bar’), sucos e smoothies fresquinhos e orgânicos, comida ‘paleo’ sem farinha (‘Paleo’), enfim – Torvehallerne tem de um tudo e TUDO é delicioso.

Comece com um café da manhã no ‘Granny’s House’, onde o menu com café, pão com manteiga, geléia, queijo e presunto, mais um pão doce (Danish Pastry) custa 70 coroas.

O Torvehallerne fica coladinho na estação do metrô em Nørreport, centrão de Copenhague.

Kødbyen, mais gourmet

As posibilidades são muitas, desde pizza (‘Mother’), comida orgânica (‘Bio Mio’) até cozinha internacional mais refinada (‘Gorilla’s’). Explore e escolha – praticamente não há chance de cair numa furada.

Copenhagen Street Food‘budget’

Não perca tempo comprando no ‘Brasa’, o representante ‘brasileiro’ do local. De brasileiro não tem nada. Procure o trailer mais exótico que você conseguir encontrar e se jogue! Os cachorro-quentes gourmet são divinos, o ‘Fat Burger’ é gostoso, fish&chips também, mas eu iria no colombiano (vegetariano), no coreano ou no cuscus marroquino!

Outras opções na cidade

  • Uma deliciosa opção de almoço típico dinamarquês é o Schønnemann pertinho de Nørreport também, reserva recomendada. Ali são servidos os deliciosos sanduíches abertos no pão de centeio (mas você pode pedir pelo pão branco se preferir). Atendimento ótimo, precinhos um pouquinho salgados mas vale cada centavo 🙂
  • se você curte sushi, a opção é o Hatoba, perto da estação de metrô em Kongens Nytorv; ou qualquer um dos restaurantes do Sticks ‘n Sushi espalhados pela cidade;
  • se o negócio for pizza, tente o Gorm’s em frente ao Nyhavn, ou no Torvehallerne;
  • para hamburguers procure um dos Halifax pela cidade;
  • se quiser uma coisa mais nórdica / internacional / gourmet, procure o Madklubben na Vesterbrogade.
  • Para café da manhã, além do Granny’s House que fica no Torvehallerne, há duas redes de padaria que eu adoro e recomendo muito: a Lagkagehuset e a Emmery’s, em ambas você pode encontrar muito mais do que um delicioso morgenmad (‘café da manhã’ em dinamarquês), como bolos, sanduíches perfeitos pra um almoço rápido (ninguém precisa ir pra McDonald’s ou similares, por Deus!) e aquele cafezinho amigo de toda hora.
  • Quer uma sobremesa? Duas opções deliciosas são a Paradis Is, que vende sorvetes artesanais e tem pontos pela cidade inteirinha (fechada no inverno); e a La Glace, casa tradicionalíssima de tortas indescritíveis de tão perfeitas. A La Glace fica bem no meio da famosa rua dos pedestres, a Strøget.

Para mais dicas, visite (em inglês): Tudo Sobre Copenhague 🙂

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Comendo em Copenhague: Jensens Bøfhus

Esse foi provavelmente o primeiro restaurante onde eu comi em Copenhague, quando aqui cheguei em 2004. A promessa: um bife rápido, servido com uma saladinha básica e batatas fritas, a um precinho muitíssimo camarada (menos de 100 coroas). Não vou negar que comi lá outras vezes depois dessa primeira, e confesso que comi feliz e satisfeita.

Talvez eu tenha ficado mais exigente, talvez o restaurante tenha mesmo piorado o nível da comida e do atendimento, talvez as duas coisas. A última vez em que estive no Jensens (é uma rede enorme, com diversos restaurantes em toda a Dinamarca) foi há uns 7 anos. E a experiência foi tão ruim que eu pensei comigo mesma, eu não mereço – e nem tenho tempo pra perder com esse tipo de serviço!

Depois disso, passei a pesquisar sobre lugares legais e com precinhos camaradas pra se comer em Copenhague, e o resultado dessa pesquisa e de anos de teste vocês verão publicados aqui em breve (sei que já prometi isso antes, rs)

Mas por que resolvi falar do Jensens hoje?

Primeiro porque o Jensens está no olho do furacão desde a semana passada, com a notícia de que a rede venceu uma briga na justiça contra uma pequena peixaria que fica a centenas de quilômetros da capital, em Frederikshavn (norte da Jutlândia), pelo direito de usar o nome “Jensen”. O problema é que Jensen (assim como Hansen, Nielsen, e todos os outros sobrenomes terminados em -sen) é um dos nomes mais comuns do país, com milhares de pessoas sendo batizadas todos os dias com Jensen no documento. A peixariazinha em questão, um pequeno restaurante familiar que nem de longe ameaça a soberania da rede de bife (primeiro pelo tamanho e localização geográfica, segundo pelo tipo de comida que serve), foi condenada a pagar cerca de 200 mil coroas (pouco menos de cem mil reais) além de perder o direito de usar o nome Jensen (que certamente é o sobrenome do dono, assim como de outros milhares dinamarqueses).

A sociedade se doeu e tomou partido da peixaria, se organizou em um grupo no Facebook e agora milhares de pessoas estão detonando o Jensens (o do bife) e defendendo o Jensen (do peixe 🙂 ) pela internet a fora, principalmente no Facebook e no Trustpilot, que é onde eu trabalho.

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O outro motivo de eu ter resolvido postar sobre esse evento é para alertar os turistas que pensam em vir pra Dinamarca. Não recomendo o Jensens (e não é por motivos políticos). A comida é ruinzinha, o atendimento é péssimo e o cliente nunca tem razão. Pelo mesmo dinheiro, dá pra comer beeeem melhor em outros lugares. Aguardem, eu volto com as dicas quentes.

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Por dentro da História de Copenhague

Ontem, eu e uns colegas do trabalho fizemos um passeio muito legal pela Pilestræde (a rua onde eu trabalho, bem no centro de Copenhague) acompanhados pelo Torben, um historiador que adora contar histórias obscuras e pouco conhecidas sobre a cidade.

Torben e sua "WeirdWalk"

Torben e sua “WeirdWalk”

Caminhando por essa rua, fomos guiados por Torben a olhar para cima, para o alto dos prédios, e imaginar a vida e o que acontecia por ali há 300, 400 anos.

O assunto abordado é tão variado quanto arquitetura, pessoas, profissões, datas – claro – e até fofocas históricas. 

Os tetos de Copenhague

Os tetos de Copenhague

 

Prédios que datam dos séculos 17, 18, 19…. e histórias das pessoas que viveram lá.

 

Rua estreita muito comum na Copenhague antiga


Rua estreita muito comum na Copenhague antiga

 

Casas que podem ser visitadas nos dias de hoje, desde que as mulheres não estejam de salto alto – os antiquíssimos pisos de madeira correm o risco de serem danificados.

 

Lindo!


Lindo!

 

Acabei a noite e o passeio mais bem informada e muito mais curiosa sobre a história dessa belíssima capital 🙂

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